Para evitar discussões acaloradas, o brasileiro, por muito tempo, optou por evitar os assuntos mais polêmicos, dando origem até mesmo ao ditado: “futebol, religião e política não se discutem”. Mas será que isso é verdade?
Dos três temas citados, o futebol sempre foi o mais debatido. Ninguém gosta de ouvir críticas ao seu time, mas poucos resistem ao prazer de caçoar do time adversário quando ele perde um jogo ou é rebaixado. Assim, a máxima de que não se discute futebol logo cai por terra.
Ao contrário do esporte, religião e política permaneceram por muito tempo no limbo dos assuntos a não serem discutidos. A religião, por exemplo, não era debatida porque, durante a maior parte da história brasileira, os católicos eram a maioria absoluta. Como os católicos não discutiam a própria religião entre si, as religiões minoritárias certamente não estavam dispostas a entrar nessa briga.
O fato de a política não ser discutida tem uma explicação simples: a ditadura. Durante o governo de Getúlio Vargas e, posteriormente – e de forma muito mais intensa – durante a Ditadura Militar que dominou os anos 60, 70 e 80, discutir política era motivo para prisão e, em muitos casos, morte. Uma nação inteira foi condicionada, desde o lar até a escola e o ambiente de trabalho, a não discutir política. Era perigoso.
Com o passar dos anos, religião e política começaram a ser abertamente discutidas. No campo religioso, isso se deve ao rápido encolhimento do número de católicos no Brasil. Em 1940, os católicos representavam 95% da população; em 2012, último dado atualizado, eram pouco mais de 64%. Com o crescimento exponencial das religiões neopentecostais, discutir religião se tornou cada vez mais comum, afinal, é através do debate que ocorre a conversão.
Quanto à política, ela começou a ser discutida abertamente com a redemocratização do país. Com a vitória de Fernando Collor, o Brasil se viu livre da ditadura militar, e discutir política não era mais tão perigoso. Mesmo assim, muitos ainda se recusavam a tocar no assunto por ignorância ou medo de brigas. Após o impeachment de Dilma Rousseff, o país experimentou uma grande cisão, e a política passou a ser debatida mais abertamente.
Com a eleição de Jair Bolsonaro, a política deixou de ser um tema evitado e se tornou uma das pautas mais debatidas. Apesar de isso ser positivo, anos de negação ao debate político resultaram em muitas pessoas sem saber como funciona a política no país.
Embora o debate aberto seja importante, para que ele seja proveitoso, é necessário conhecimento. Futebol e religião são assuntos pessoais, onde o indivíduo não precisa se justificar para escolher um time ou uma fé, mas a política não é subjetiva. As escolhas políticas afetam a vida de milhões de pessoas; tratar a eleição como uma partida de futebol ou um culto religioso é um grande risco para a democracia.
Fonte: Da redação