O panorama eleitoral em Sumaré aponta para uma disputa por cadeiras estaduais e federais em 2026 marcada mais pela repetição de rostos e pela retórica do que por capacidade técnica e clareza ideológica.
Repetição de nomes e espetáculo eleitoral
A cena local tem repetido um ciclo em que os mesmos candidatos — muitos sem histórico de desempenho relevante ou sem prestação de contas clara — retornam ao campo eleitoral. Para o eleitor, a oferta tende a se concentrar na promessa brilhante, não na capacidade demonstrada.
No período de campanha, a disputa assume traços de um leilão de promessas: busca-se superar rivais com propostas grandiosas, independentemente de resultados anteriores. A grandiosidade retórica convive com o retorno frequente de ex-gestores, vereadores e deputados.
“Se promessas eleitorais fossem tijolos, Sumaré já teria 5 viadutos, 4 hospitais, 3 metrôs, um aeroporto internacional e talvez até um foguete pronto para Marte”
Essa ênfase no espetáculo eleitoral acaba substituindo a discussão sobre resultados concretos. Caminhar pelos gabinetes e corredores públicos não transforma qualquer visitante em especialista; o histórico administrativo precisa ser acompanhado de prestação de contas e realizações tangíveis.
Falta de quadros qualificados
Um problema central é a ausência de quadros de alto calibre dispostos a entrar na disputa. Sumaré tem cidadãos com currículo sólido, vida pública limpa e preparo técnico — muitos, porém, preferem observar a cena à distância.
Motivações como constrangimento, aversão ao ambiente partidário ou receio de se misturar com a política profissional fazem com que potenciais candidatos qualificados não participem. Com os mais preparados fora do jogo, avançam os de sempre, reforçando o ciclo da promessa vazia.
Confusão ideológica e responsabilidade do eleitor
Outro aspecto sensível é a confusão ideológica que permeia candidaturas locais. Filiações e rótulos partidários muitas vezes funcionam mais como etiquetas eleitorais do que como reflexo de convicções firmes, o que dificulta ao eleitor saber o que esperar de seu representante na Assembleia ou em Brasília.
Quebra-se, assim, a ligação entre eleito e representado: sem clareza de propostas, preparo técnico e coerência ideológica, o processo tende a premiar a habilidade de espetáculo em detrimento da competência comprovada.
A responsabilidade, porém, não é só dos candidatos. O eleitorado terá papel central em 2026: é preciso ir além dos nomes repetidos, exigir preparo técnico, clareza ideológica e planos de trabalho factíveis. A sociedade civil também deve cobrar a participação daqueles cidadãos capacitados que hoje preferem ficar à margem e pressionar lideranças comunitárias e empresariais a superar a reticência.
Enquanto os mais qualificados permanecerem fora do debate público, o palco seguirá reservado a atores que tratam a política como negócio particular. Romper esse ciclo demanda mudança de atitude tanto de quem concorre quanto de quem escolhe.

Fonte: Paulo Moranza – Ex-prefeito




