Neste mês de agosto, temos duas campanhas principais no calendário da saúde: o Dia Nacional da Saúde (5/08) e o Dia Nacional de Combate ao Fumo (29/08). Proponho uma reflexão sobre essas datas sob diferentes perspectivas. Há um debate constante sobre o elevado custo dos convênios médicos. Não há equilíbrio ou alinhamento entre hospitais, clínicas, planos de saúde e clientes sobre os valores a serem cobrados e pagos. De fato, conveniados acima dos 60 anos são os mais preocupados, afinal, os preços ficam proibitivos a partir dessa faixa etária. Aqui cabe o ditado de que “a corda arrebenta no lado do mais fraco”, que é o do cliente.
Eu não tenho uma solução, mas acredito que uma mudança de paradigma pode inspirar cada um a fazer sua parte em vez de apontar o problema nos outros e esperar que chegue uma boa notícia da ciência, como, por exemplo, a invenção de um remédio que seja bom, barato e que cura tudo, quase mágico.
O que chamamos de Plano de Saúde deveria se chamar Plano de Doença. Não há como escapar: o ideal é que uma família direcione parte de sua receita para suportar os episódios de perda da saúde, seja fazendo uma poupança ou pagando mensalmente um plano que ofereça acesso a exames preventivos, atendimento emergencial, cirurgias e tratamentos indispensáveis e inevitáveis.
E o que eu chamo de “Plano de Saúde” seria uma programação de cuidados para minimizar a necessidade de acionar o “Plano de Doença”. Isso implica sermos ativamente responsáveis por uma longevidade saudável e autônoma, baseando-nos em hábitos, ações e posturas sobre os quais temos controle.
Combate ao fumo
Não fumar ou interromper o ato de fumar é a escolha principal. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), especializada em câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta o cigarro como diretamente responsável por pelo menos 14 tipos de câncer. Além disso, o tabaco está associado a muitos outros problemas de saúde, incluindo doenças cardíacas, respiratórias e circulatórias. Não conheço uma pessoa sequer que tenha fumado a vida toda e que não sofra, ao menos, uma consequência grave dessa decisão.
Alimentação saudável e equilibrada, manutenção do peso próximo ao ideal, exercícios físicos regulares, redução da ingestão de bebida alcoólica, e exposição ao sol com moderação e proteção são outras ações que devem ser incorporadas ao verdadeiro “Plano de Saúde” da vida.
Estratégia
Muita gente encara a atividade física como uma forma de lazer. No entanto, é preciso vê-la como uma estratégia de saúde. Estudos mostram que a humanidade está vivendo mais, mas um terço das pessoas chega lá muito debilitada. Não é interesse de ninguém acrescentar à vida um período de sofrimento. A longevidade desejada é para brincar com os netos e bisnetos, viajar, namorar e ter propósitos, o que não acontece se a pessoa não tiver plantado e cultivado um “Plano de Saúde”.
“Guerra” entre pais e filhos
Tenho visto verdadeiras “guerras” entre pais e filhos com relação ao tempo exagerado dos mais jovens diante das telas. Infelizmente, é mais fácil para os adultos desistirem, ainda mais com a emergente e aparente “vantagem” de que deixar a criança e o adolescente bastante tempo na internet os mantém “sossegados”.
Pesquisas mostram que, além do sedentarismo e dos problemas de visão e postura que esse costume pode impor, longos períodos diante das telas provocam prejuízos mentais. As redes sociais, por exemplo, exibem padrões de consumo e modelos de beleza ilusórios e inatingíveis, podendo levar à depressão grave, elevando o número de suicídios, principalmente entre meninas.
Há manifestações de segmentos da sociedade pleiteando uma regulamentação que alerte sobre os prejuízos para menores de idade quando o usuário entrar nas redes sociais. Tudo o que for feito para munir os pais e responsáveis de informações sobre esses malefícios é bem-vindo. Espero que uma regulamentação seja elaborada e bem-sucedida.
Prudência
As áreas em que podemos agir individualmente para planejarmos o “Plano de Saúde” são amplas. Sair com tempo para chegar ao destino, dirigindo o veículo com prudência é um exemplo. Quantas pessoas se acidentam e têm sequelas sérias e incapacitantes por estarem atrasadas, por terem ingerido bebida alcoólica ou drogas, por estarem em alta velocidade ou distraídas ao celular? São condições evitáveis que, infelizmente, resultam em um custo financeiro altíssimo e comprometimento irreversível da saúde.
O controle do estresse, o voluntariado, passar mais tempo com quem se gosta, fazer exames preventivos são atitudes que precisam dirigir o novo estilo de vida. Há muito que individualmente podemos fazer para aumentar a saúde e a expectativa de uma vida longeva com qualidade.
Sobre o Dr. Paulo Pizão
O oncologista Dr. Paulo Eduardo Pizão é um profissional global. Por ser docente em faculdade, gestor em instituições de saúde, atuar no atendimento clínico e por ter sido pesquisador na indústria farmacêutica, tem uma visão geral do setor e conhece o mecanismo desse segmento.
Suas atividades profissionais atuais:
Pesquisador no Centro de Pesquisa Clínica São Lucas (PUC-Campinas), coordenador da disciplina de Oncologia Clínica no Curso de Medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic, Campinas-SP; oncologista no Instituto do Radium.
Suas especializações:
Especialista em Oncologia Clínica pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO); Especialista em Cancerologia (Oncologia Clínica) pela Associação Médica Brasileira; PhD em Medicina (Oncologia) pela Universidade Livre de Amsterdam, Holanda.
Fonte: AMZ
Crédito: Matheus Campos