O patriotismo brasileiro tem sido distorcido por discursos políticos que usam símbolos nacionais para divisão e exclusão. Entenda como o verdadeiro patriotismo valoriza a diversidade, o diálogo e a justiça social, e por que essa visão crítica é essencial para fortalecer a democracia no país.
O que é patriotismo e como ele difere do nacionalismo
O patriotismo, segundo o historiador Daniel Gomes de Carvalho, vai além da simples veneração de símbolos nacionais. Originado no Iluminismo do século XVIII, ele representa um equilíbrio entre o amor à pátria e uma visão cosmopolita, promovendo o debate, a crítica e a inclusão de múltiplas perspectivas.
Diferentemente do nacionalismo, que se consolidou nos séculos XIX e XX como uma ideologia romântica e homogênea, o patriotismo iluminista está ligado à promoção do bem-estar coletivo e à defesa dos direitos universais.
Manipulação dos símbolos nacionais para fins políticos
Historicamente, regimes autoritários, inclusive no Brasil durante as ditaduras, usaram símbolos nacionais para criar uma falsa unidade e silenciar vozes dissidentes. Essa manipulação continua vigente, especialmente na direita bolsonarista, que utiliza a bandeira, o hino e as cores nacionais para justificar posições autoritárias e conservadoras.
Essa apropriação seletiva transforma o patriotismo num instrumento de exclusão, mascarando injustiças sociais e reforçando uma visão homogênea do país.
Manifestação e divisão política sob o pretexto do patriotismo
Manifestações em datas simbólicas, como o 7 de setembro, exemplificam essa distorção. Disfarçadas de atos patrióticos, elas defendem medidas protecionistas e interferem em questões jurídicas, frequentemente contrariando princípios de justiça e inclusão.
O discurso binário de “nós contra eles” simplifica debates complexos e desqualifica vozes dissidentes, reduzindo o diálogo público a lealdade partidária.
O slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” e seus impactos
Esse lema, que exclui minorias, legitima ataques a instituições democráticas como o Supremo Tribunal Federal (STF). O uso da camisa da seleção brasileira em protestos políticos confunde patriotismo com apoio a agendas específicas, transformando símbolos de unidade nacional em emblemas de divisão.
Além disso, a exaltação a figuras estrangeiras, como Donald Trump, em detrimento das instituições nacionais, revela contradições entre discurso de soberania e submissão a interesses externos.
Consequências econômicas do patriotismo equivocado
Medidas protecionistas defendidas por setores que se dizem patrióticos podem prejudicar a economia brasileira. Por exemplo, a carta de Donald Trump a Brasília em julho de 2025 e a taxação de 50% dos EUA sobre exportações brasileiras podem causar perdas de até R$ 27 bilhões ao agronegócio em doze meses, conforme dados do Ministério da Fazenda.
Apoiar políticas que prejudicam trabalhadores brasileiros em nome de disputas ideológicas é o oposto do verdadeiro patriotismo.
Um caminho alternativo: patriotismo crítico e inclusivo
O patriotismo comprometido com a Constituição de 1988 reconhece a miscigenação, a pluralidade religiosa e regional, combate preconceitos e defende instituições democráticas. Isso implica proteger a liberdade de imprensa, investir em educação para formar cidadãos críticos, cobrar transparência governamental e valorizar o fortalecimento do SUS, cujo orçamento cresceu 8,4% em 2025.
Esses atos são tão patrióticos quanto cantar o hino nacional.
Convite à reflexão sobre o patriotismo genuíno
Ao encontrar alguém que se declara “superpatriota”, pergunte quais direitos básicos está disposto a defender para quem discorda. Se a resposta envolver censura, exclusão ou violência, trata-se de populismo, não patriotismo.
O país só avançará quando a bandeira deixar de ser um escudo contra críticas e se tornar um convite à responsabilidade coletiva.
Este país só avançará quando a bandeira deixar de ser colete à prova de crítica e voltar a ser convite à responsabilidade coletiva. Vinícius Ayala

Fonte: Vinícius Ayala