Ao completar 80 anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) surge, na avaliação do autor Paulo Delgado, cada vez mais desorganizada, desunida e incapaz de liderar uma ordem global eficaz — quadro que, segundo ele, encontra-se ligado a falhas institucionais, geracionais e políticas.
Perda de eficácia
O texto aponta que a ineficácia da ONU resulta de práticas internas que privilegiam imagem em detrimento de resultados: reuniões presenciais volumosas e caras, delegados pouco representativos e um processo decisório baseado em consenso que tem sido boicotado por atores e populações.
Esses fatores, somados à banalização do veto no Conselho de Segurança, reduziram a funcionalidade do órgão e minaram a confiança no sistema multilateral.
Origens geracionais
O autor recupera o papel da geração dos “baby boomers” — nascidos aproximadamente nos dezoito anos após 1946 — como responsáveis pelas atuais lideranças que herdaram uma arquitetura global centrada na ONU e num Conselho de Segurança dominado por cinco membros com poder de veto.
Segundo o texto, essa geração, distante da experiência direta de uma guerra mundial, teria reduzido o senso de urgência sobre a preservação da governança global, contribuindo para a estagnação de reformas significativas.
Divisão e realinhamentos
O artigo descreve a organização do mundo pós‑1945 em três blocos — a tríade anglo‑saxã (Europa Ocidental e Japão), o Segundo Mundo alinhado a Moscou e o Terceiro Mundo marcado por conflitos — e acompanha a evolução política até a incorporação da China ao Conselho de Segurança.
Com o declínio do Segundo Mundo, consolidou‑se a divisão entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, ao mesmo tempo em que o crescimento de Pequim se articulou com economias do G7.
Instituições em crise
Na década de 1990, o arcabouço global incorporou novas instituições e mecanismos — como a Organização Mundial do Comércio (OMC) — enquanto o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial foram cada vez mais instrumentalizados, nota o autor.
Hoje, segundo o texto, esses organismos também mostram sinais de esgotamento e ineficácia, o que afeta processos multilaterais recentes, inclusive conferências climáticas como a COP30, realizada em Belém do Pará.
Era G‑Zero
Partindo da noção da consultoria Eurasia, o autor retoma o conceito de uma era G‑Zero — um período em que nenhuma potência ou grupo de potências conduz uma agenda global ou mantém a ordem internacional.
Nesse cenário, o Direito Internacional seria publicamente desrespeitado e rasgado, sem reação coordenada entre Estados, ampliando a sensação de desamparo institucional.
Conclusão
O artigo conclui com um juízo amplo: a responsabilidade pela crise multilateral é coletiva e os principais problemas apontados são guerra, poluição, miséria e corrupção. Sem princípios e com ação insuficiente das nações, sustenta o autor, a humanidade corre risco de fracassar em responder aos desafios globais.
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