O assassinato de uma jovem de 21 anos, mãe de um bebê de dois meses, em Hortolândia elevou para 24 o número de feminicídios registrados na Região Metropolitana de Campinas (RMC) em 2025, já superando o total de 2024.
O padrão do crime
O crime no Jardim Terras de Santo Antônio segue um roteiro repetido: violência no âmbito doméstico, companheiro como principal suspeito, fuga após o assassinato e uma família destruída.
Em menos de um ano, Hortolândia já soma 3 feminicídios, entre eles o caso de uma adolescente de 15 anos e outro em que o agressor matou a ex-companheira e tirou a própria vida. Esses padrões apontam para um problema que ultrapassa a esfera individual e exige resposta pública e estrutural.
Repercussão e exemplos
O cenário regional encontra eco em episódios de repercussão nacional. Em Minas Gerais, a morte de uma mulher tratada inicialmente como acidente de trânsito revelou-se feminicídio após investigação; o agressor confessou ter simulado o acidente para encobrir o crime.
O caso expôs não só a crueldade, mas também a frieza com que a violência contra mulheres pode ser naturalizada e transformada em estatística rodoviária.
Discursos que legitimam a violência
Especialistas, pesquisadores e movimentos de defesa dos direitos das mulheres alertam para a disseminação de discursos misóginos organizados, especialmente entre jovens e adultos.
Comunidades digitais e grupos alinhados à extrema direita, assim como movimentos conhecidos como “red pill”, propagam narrativas que tratam mulheres como manipuladoras, inferiores ou propriedade dos homens, legitimando controle, violência e, em casos extremos, o assassinato.
A radicalização desses discursos cria um ambiente em que a agressão deixa de ser vista como crime e passa a ser encarada como reação “natural” a frustrações masculinas.
Medidas necessárias
Tratar o feminicídio apenas como falha individual é fechar os olhos para um fenômeno cultural. Enfrentar essa realidade requer medidas que vão além de discursos de ocasião.
- Endurecimento da legislação e avanço no debate sobre a criminalização da misoginia.
- Fortalecimento das investigações e punição exemplar a agressores.
- Medidas protetivas efetivas, rápidas e monitoradas, não apenas protocoladas.
- Políticas de educação voltadas a homens e meninos para desmontar a cultura que sustenta a violência.
- Responsabilização de plataformas digitais que permitem a proliferação de discursos de ódio travestidos de opinião.
Alerta coletivo
Cada novo caso registrado na RMC, em Hortolândia ou em qualquer cidade do país, não é apenas uma tragédia individual — é um alerta coletivo.
Enquanto a misoginia continuar sendo tolerada, relativizada ou instrumentalizada politicamente, os números seguirão crescendo, e cada estatística esconderá uma vida interrompida, uma família devastada e um Estado que chegou tarde demais.
Fonte: Da redação




