sexta-feira, 19 dezembro, 2025
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Apagão em São Paulo põe em xeque Enel, Sabesp e o DAE de Sumaré

Mais de 2,5 milhões de clientes ficaram sem energia após um ciclone extratropical que provocou chuvas intensas e ventos fortes, levando autoridades a pedir intervenção federal para conter o colapso causado pela concessionária Enel.

Privatizações em xeque

O episódio que deixou bairros inteiros no escuro e interrompeu serviços básicos expôs, na prática, os limites do modelo de privatização aplicado a serviços públicos estratégicos. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), recorreram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em busca de uma solução para os apagões e pela abertura do processo de caducidade do contrato da Enel.

A Enel assumiu a antiga Eletropaulo em 2018, no contexto de privatizações iniciadas nas décadas anteriores sob o discurso de eficiência e maior investimento. Sete anos depois, relatos apontam precarização da manutenção, falhas recorrentes e demora no atendimento, em um modelo que transfere riscos à população enquanto garante lucros aos acionistas.

Consequências práticas

Além dos apagões — que em alguns locais se prolongaram por quase uma semana —, o transporte público foi afetado e o Tribunal de Justiça de São Paulo chegou a impor prazo e multa para o restabelecimento do serviço, evidenciando o grau de deterioração da concessão.

O caso da Enel também dialoga com a privatização da Sabesp, concluída em julho de 2024, vendida como meio de acelerar a universalização do saneamento. Desde então, denúncias relatam aumento abrupto das tarifas, descarte de esgoto sem tratamento em rios e represas e redução de equipes de manutenção.

Impacto local: exemplo em Sumaré

O roteiro se repete em escala local. Em Sumaré, a privatização do antigo DAE, hoje sob gestão da BRK Ambiental, tornou-se sinônimo de problemas crônicos: falta de abastecimento frequente, manutenção deficiente da rede, buracos e asfalto danificado após obras mal finalizadas e aumentos sucessivos na tarifa.

Relatos de contas que saltaram para cifras incompatíveis com a renda das famílias, somados a vazamentos de esgoto em importantes mananciais da Grande São Paulo, colocaram em xeque a promessa de eficiência. Ao mesmo tempo, políticas que ampliam dividendos garantem mais recursos aos acionistas enquanto a população enfrenta piora na prestação do serviço.

Diagnóstico e propostas

O fio condutor entre Enel, Sabesp e BRK é claro: a transferência de serviços essenciais para a iniciativa privada não resultou, até aqui, em melhoria estrutural nem em redução de custos. Pelo contrário, produziu tarifas mais altas, serviços instáveis e dependência do poder público para conter crises geradas pelas próprias concessionárias.

Para recompor a confiança dos usuários e reduzir a vulnerabilidade da população é necessário combinar ações imediatas e de médio prazo:

  • Reforçar a regulação e os mecanismos de fiscalização das concessões;
  • Recompor a capacidade estatal de gestão e manutenção de serviços estratégicos;
  • Reavaliar modalidades de concessão que priorizem o interesse público em vez do lucro imediato;
  • Exigir transparência nas contas, investimentos e políticas de dividendos das empresas privatizadas.

Somente com uma agenda que integre medidas regulatórias mais rígidas e a recomposição do papel do Estado será possível evitar que falhas no fornecimento do mínimo necessário ao funcionamento da cidade voltem a expor milhões de usuários.

Fonte: Da redação

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