Medo do divórcio, insegurança financeira e a expectativa de melhora levam muitos casais a manter relacionamentos infelizes, segundo pesquisas e levantamentos sobre o tema.
Principais motivos
Uma pesquisa do escritório britânico Slater & Gordon, realizada com 2.000 casais, listou as razões mais comuns que impedem as pessoas de pedir o divórcio: falta de coragem, medo de arrependimento, esperar que as coisas melhorem, receio do impacto na família, necessidade de ficar por causa dos filhos, insegurança financeira, relutância em deixar a casa ou vender o imóvel, sentimento de idade avançada, culpa e medo da solidão.
O levantamento também indica que 50% dos participantes se sentem presos ao relacionamento e que muitos afirmaram que, se tivessem segurança financeira após o rompimento, pediriam o divórcio imediatamente.
“Ainda existe um entendimento predominante na sociedade, que as pessoas devem ficar juntas não importa o quão infelizes estejam. Obviamente, o divórcio deve sempre ser o último recurso do casal, mas a ideia de centenas de casais ficarem juntos, apesar de estarem miseráveis, porque eles estão preocupados com a sua vida financeira, é muito triste.”
Evolução e dados
O divórcio no Brasil foi instituído em 1977 pela Emenda Constitucional nº 9, substituindo institutos anteriores como o desquite, previsto no Código Civil de 1916. Segundo dados do IBGE, entre 1984 e 2016 os divórcios aumentaram 269%, enquanto os casamentos cresceram apenas 17%, o que levou à conclusão de que cerca de 1 em cada 3 casamentos termina no país.
Manter-se num relacionamento infeliz, além de ser comum, é prejudicial à saúde mental dos parceiros e dos filhos, conforme apontam estudos na área da psicologia e saúde pública.
Explicações teóricas
A chamada teoria da interdependência, proposta por Harold Kelley e John Thibaut, sugere que cada parceiro avalia a satisfação pesando custos e benefícios: enquanto os benefícios superarem os custos percebidos, permanece a satisfação.
Pesquisas mais recentes de autores como Levi Baker, James McNulty e Laura VanderDrift apontam que o comprometimento também depende da satisfação esperada no futuro — muitos permanecem porque acreditam que a qualidade do relacionamento vai melhorar. Experimentos citados em estudo publicado na Current Psychology indicam ainda que os investimentos feitos no relacionamento (tempo, esforço e dinheiro) aumentam a propensão a permanecer, mesmo quando há insatisfação.
Implicações
O acúmulo dessas razões — medo do divórcio, preocupações financeiras, expectativas de melhora e investimentos acumulados na relação — explica por que muitos casais optam por ficar juntos apesar da infelicidade. Essa permanência pode agravar problemas de saúde mental e impactar negativamente o bem‑estar dos filhos.
Entender os fatores que mantêm relações disfuncionais pode orientar políticas públicas, serviços de apoio e intervenções terapêuticas voltadas à segurança financeira e ao suporte emocional de pessoas em relacionamentos conflituosos.
Fonte: Telavita




